Sou benfiquista desde que me conheço. Benfiquista de ir ao estádio, de
sofrer e festejar com a garganta seca e a voz embargada, de sentir o peso da
história do clube, de saber quem marcou os 5 penaltis contra o PSV na final de
Estugarda, pois saber quem falhou o sexto é demasiado fácil.
Sou benfiquista dos que nunca assobia a equipa durante os 90 minutos de
jogo. De igual modo, raramente me entrego à emoção dos cânticos de incentivo.
Como noutras coisas, também no espetáculo do futebol gosto de estar perto, mas
deixo alguma distância. Absorver, mas não me envolver.
Desde que me lembro de assistir aos jogos do Benfica, penso que a equipa
atual é a que melhor homenageia a história do clube, nomeadamente a época áurea
das conquistas dos anos 60. Nos meus 35 anos de vida, convivi com um Benfica de
várias caras, ora com uma equipa consistente, ora com uma equipa virtuosa e
também, durante demasiado tempo, com uma equipa deprimente.
O Benfica tem hoje uma Equipa no verdadeiro sentido da palavra, tem um Capitão,
tem Referências e isso é tudo tão importante! É essencial que façam parte do
plantel jogadores com 7, 8 ou 10 anos de casa, convivendo com os que vão
chegando ou com os que são formados no clube. Para além da questão da mística,
há a questão fulcral da adaptação ao clube, ao país ou, no caso dos da
formação, à dimensão da primeira equipa… Foram tantos anos desperdiçados que,
verificar agora que isto acontece, enche-me de orgulho benfiquista.
Ontem apeteceu-me gritar, cantar, saltar, abraçar alguém. Estando só com os
miúdos em casa, tive que controlar-me para não ir acordar a Joana para lhe
dizer que o Benfica estava na final, que tinha sido Equipa, jogando em doses
iguais e brutais com o coração e com a cabeça.
Foi um gosto ver o Benfica eliminar a Juventus, à beira de se tornar
tri-campeã italiana, e que se revelou, nesta semifinal, uma equipa forte mas
ineficaz, presunçosa mas queixinhas. Foi bonito ver uma equipa italiana a ser derrotada por um futebol matreiro,
adjetivo tantas vezes usado para definir as equipas do Calcio. O Benfica foi
isso mesmo, matreiro, defendendo mas nunca abdicando de tentar atacar. Foi uma
lição e, para mim, um gosto!
Os jogadores, esses foram mais uma vez heróis, mesmo sendo injusto, vou
destacar 3, o Oblak, que garantiu a passagem à final com uma defesa brutal já
no período de descontos e que poderia ter feito regressar o fantasma do minuto
92 (embora a defesa tenha sido para aí aos 95), o capitão Luisão, o único
tricampeão do plantel, que ontem tirou uma bola de golo em cima da linha e,
finalmente, Enzo Perez, o motor desta equipa que personifica o que é o espirito
de equipa. Este homem chegou para ser artista, jogar numa ala, livre para
fintar e assistir colegas para o golo. Hoje é um operário, permite que outros
exibam o seu talento enquanto ele garante os equilíbrios da equipa, trabalhando
de forma incansável no meio-campo. A sua entrega é exemplar, já conquistou
todos os adeptos, mesmo os que teimavam em não esquecer a sua fuga na primeira
época.
Há três finais em disputa, os resultados serão os que forem, mas uma coisa
é certa, o cântico que por aí ecoa “o Campeão Voltou” parece-me verdadeiro. Um Campeão
pode não ganhar sempre, ninguém ganha, mas está sempre na luta, forte, honrado
e obstinado.
Viva o Benfica!
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