sexta-feira, 2 de maio de 2014

Benfica

Sou benfiquista desde que me conheço. Benfiquista de ir ao estádio, de sofrer e festejar com a garganta seca e a voz embargada, de sentir o peso da história do clube, de saber quem marcou os 5 penaltis contra o PSV na final de Estugarda, pois saber quem falhou o sexto é demasiado fácil.

Sou benfiquista dos que nunca assobia a equipa durante os 90 minutos de jogo. De igual modo, raramente me entrego à emoção dos cânticos de incentivo. Como noutras coisas, também no espetáculo do futebol gosto de estar perto, mas deixo alguma distância. Absorver, mas não me envolver.

Desde que me lembro de assistir aos jogos do Benfica, penso que a equipa atual é a que melhor homenageia a história do clube, nomeadamente a época áurea das conquistas dos anos 60. Nos meus 35 anos de vida, convivi com um Benfica de várias caras, ora com uma equipa consistente, ora com uma equipa virtuosa e também, durante demasiado tempo, com uma equipa deprimente.

O Benfica tem hoje uma Equipa no verdadeiro sentido da palavra, tem um Capitão, tem Referências e isso é tudo tão importante! É essencial que façam parte do plantel jogadores com 7, 8 ou 10 anos de casa, convivendo com os que vão chegando ou com os que são formados no clube. Para além da questão da mística, há a questão fulcral da adaptação ao clube, ao país ou, no caso dos da formação, à dimensão da primeira equipa… Foram tantos anos desperdiçados que, verificar agora que isto acontece, enche-me de orgulho benfiquista.

Ontem apeteceu-me gritar, cantar, saltar, abraçar alguém. Estando só com os miúdos em casa, tive que controlar-me para não ir acordar a Joana para lhe dizer que o Benfica estava na final, que tinha sido Equipa, jogando em doses iguais e brutais com o coração e com a cabeça.

Foi um gosto ver o Benfica eliminar a Juventus, à beira de se tornar tri-campeã italiana, e que se revelou, nesta semifinal, uma equipa forte mas ineficaz, presunçosa mas queixinhas. Foi bonito ver uma equipa italiana a ser derrotada por um futebol matreiro, adjetivo tantas vezes usado para definir as equipas do Calcio. O Benfica foi isso mesmo, matreiro, defendendo mas nunca abdicando de tentar atacar. Foi uma lição e, para mim, um gosto!

Os jogadores, esses foram mais uma vez heróis, mesmo sendo injusto, vou destacar 3, o Oblak, que garantiu a passagem à final com uma defesa brutal já no período de descontos e que poderia ter feito regressar o fantasma do minuto 92 (embora a defesa tenha sido para aí aos 95), o capitão Luisão, o único tricampeão do plantel, que ontem tirou uma bola de golo em cima da linha e, finalmente, Enzo Perez, o motor desta equipa que personifica o que é o espirito de equipa. Este homem chegou para ser artista, jogar numa ala, livre para fintar e assistir colegas para o golo. Hoje é um operário, permite que outros exibam o seu talento enquanto ele garante os equilíbrios da equipa, trabalhando de forma incansável no meio-campo. A sua entrega é exemplar, já conquistou todos os adeptos, mesmo os que teimavam em não esquecer a sua fuga na primeira época.

Há três finais em disputa, os resultados serão os que forem, mas uma coisa é certa, o cântico que por aí ecoa “o Campeão Voltou” parece-me verdadeiro. Um Campeão pode não ganhar sempre, ninguém ganha, mas está sempre na luta, forte, honrado e obstinado. 
Viva o Benfica!

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