Tal como o João Miguel Tavares tão bem aqui explica, também tento ser fundamentalista da verdade, evitando qualquer tipo de mentiras, mesmo as mais inofensivas do género, amanhã compramos isso... Ontem, em completo desnorte, quebrei a minha regra e cedi à mentira.
A Joana anda muito focada na morte, pergunta muitas vezes se a avó, o avô,
o pai, a mãe vão morrer…
Ontem ao deitar, depois da história e já na parte dos miminhos (que, estou
em crer, me mimam mais a mim do que a ela) ela reparou que a minha barba já vai
tendo alguns pelos brancos. De repente ficou com a cara meia tristonha e
perguntou-me porquê que eu tinha a barba branca. Eu, parvo, respondi que estava
a ficar velhote…
O que se seguiu, e que agora vai parecer uma parvoíce, na altura deixou-me
totalmente desprevenido e desnorteado.
A palavra velhote fez soar a sineta
do tema morte naquela cabecinha linda que já estava cansada, a pedir caminha.
Pai, tu não vais morrer nunca
pois não?
Esta não me assustou, já respondi a esta muitas vezes nos últimos meses
Joana, só daqui a muito
muito, muito, muito tempo!,
A que se seguiu é que teve a força de verdadeiro soco no estômago.
E eu, Pai? Eu não vou morrer
nunca pois não?
O que é que se responde a isto? Arrisquei a verdade:
Oh Joana, só daqui a muitos muitos
muitos muitos muitos muitos muitos
muitos muitos anos!
Eu, que me tenho como um mestre da pedagogia de trazer por casa, borrei a
pintura toda. Esqueci-me que por muitos muitos
que eu diga, para uma menina de 4 anos tudo é, no máximo, depois de depois de amanhã. Que falhanço!
Perante a sua angústia e lágrimas de desalento e tristeza pura, não tive outra
alternativa. Cedi, e abandonei rapidamente o meu princípio de dizer sempre a verdade e
menti. Disse-lhe que não íamos morrer, que ficaríamos sempre juntos, os 4, que
me tinha enganado a explicar.
Ela acalmou, adormeceu calmamente e dormiu bem. Eu, bem pelo contrário…